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Arquitetos: Marcos Miguélez; Marcos Miguélez
- Ano: 2016
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Fabricantes: BANDALUX, Bandalux, Cupa stone, Jobensa S.L., Maderas Besteiro, TVITEC
Descrição enviada pela equipe de projeto. A edificação está situada na praça da prefeitura de Ponferrada, na base do 'Arco do Relógio', que foi uma das portas de acesso à cidade medieval. A muralha de alvenaria forma parte do edifício em uma das suas fachadas e a cruza lado a lado como um dos muros de carga da edificação tendo, por sua vez, a empena compartilhada com o convento de clausura das Concepcionistas, que permitiram sua conservação.
A residência responde a construção tradicional do casarão Berciana do século XVIII de planta retangular, formada por volumes geminados com pátio interior e torre estratificando seus usos por alturas. A planta superior se dedicava a moradia com uma área para oficinas e seu térreo orientado a atividades agrícolas ou comerciais.
Seus muros, escadas, varandas, beirais e pisos são elementos protegidos que refletem as diferentes etapas de crescimento da cidade. A muralha medieval com sua sobreposição de fases e alturas, o forno, o poço, o escudo e a torre são traços típicos da casa tradicional do século XVIII. Os artesanatos, os ladrilhos hidráulicos e escadas representam o interior da burguesia industrial do século XIX e as mudanças do século XX nas suas fachadas para o uso comercial. Durante o início do século XXI são feitas obras de estabilização e conservação.
A encomenda, como objeto guia para a reabilitação, nos exige adaptar o antigo edifício às chaves funcionais de um novo uso como restaurante, mantendo na íntegra sua identidade, readaptando os espaços.
Pensamos em uma estratégia clara, a de resolver as necessidades de conforto e instalações com a tecnologia contemporânea, conjugando-a com o valor histórico do lugar. Intervimos através de processos que extraem as camadas supérfluas. Ao despojar o edifício destas peles aparecem elementos singulares que decidimos valorizar. Recuperamos os muros de carga de alvenaria, os ladrilhos hidráulicos, os tetos decorativos, as divisórias feitas em tramado de madeira e pedra tradicionais, peças do mobiliário, parte das carpintarias em portas e janelas. O novo é construído independentemente ao existente, mas continuando a estratégia de materiais nobres e técnicas tradicionais, entrelaçando pedra natural, argamassa de cal e artesanato de gesso, madeira, vidro e metais diferentes.
Como organização espacial propomos rearticular o espaço em torno dos vazios. No primeiro corpo do edifício, abre-se um vazio de altura dupla, como um átrio interior que conecta o térreo e primeiro pavimento. No segundo corpo edificado, orientamos os usos em volta do pátio existente que envolve a muralha, criando luz e espaço. O resultado resume-se um projeto carregado de particularidades que tem como o objetivo devolver à cidade os elementos do seu patrimônio histórico.